Agência Rio de Notícias

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Comunidade, Indústria e Desenvolvimento Local O DIÁLOGO POSSÍVEL 13 a 18 de outubro de 2011 A participação do Ecomuseu de Sepetiba

A palavra colóquio por si só já define o objetivo desta série de “encontros” que teve início no dia 13 de outubro com a seguinte programação prevista: visita a Casa da Moeda do Brasil, visita ao território Av. João XXIII / Parque Industrial CSA, visita a Colônia Japonesa / Visita a Sepetiba e, encerrando o dia a palestra: Desafios do Desenvolvimento Local - proferida por Hugues de Varine – Consultor Internacional em Patrimônio e Desenvolvimento Local na Universidade Estácio de Sá – UNESA – Santa Cruz.

Infelizmente não tivemos oportunidade de participar neste dia, entretanto comparecemos no dia 14 de outubro, sexta-feira, na Conferência Comunidade, Patrimônio, Paisagem e Desenvolvimento Local – o diálogo possível, também proferida por Hugues de Varine, realizada na Casa Ser cidadão, diga-se de passagem, lugar demasiadamente aprazível e um dos ícones da luta do NOPH e do Ecomuseu de Santa Cruz, além da “casa” ter sido moradia do médico sanitarista Julio Cesário de Melo, personagem de suma importância para a zona oeste, em especial para Santa Cruz e Sepetiba. Dentre muitos tópicos abordados na referida conferência, consideramos alguns como primordiais para nós, moradores de Sepetiba e adjacências, que serão abordados a seguir.

Ao iniciar a conferência, Varine chamou atenção para a questão dos bens comuns (água, terra, ar...) necessários tanto para os indivíduos (comunidade) como para a indústria e demais atores econômicos, e sua gestão consciente e responsável, que são substancialmente indispensáveis para o desenvolvimento local (viver, trabalhar, produzir, consumir).

Varine enumerou as atribuições da indústria e das comunidades (indivíduos) quando mencionou as responsabilidades comuns a ambos os grupos (ambiente, patrimônio, gestão, serviços (transporte, saúde, educação) alojamento).

O museólogo e consultor destacou a importância do “conhecimento” do território, e como é primordial que os moradores saibam “explicá-lo”, pois conhecer o território em que vivemos, suas peculiaridades,deficiências, ausências, características específicas etc., é primordial para sua gestão consciente.

O museólogo também mencionou a questão da paisagem, destacando o fator “coerência” entre os componentes urbanos, rurais - indústrias – evolução e observação enquanto responsabilidade partilhada, lembrando que o papel dos cidadãos, atores locais, econômicos, indústria, especialistas é diferenciado. Varine lembrou que a paisagem não é boa, nem má, e sim um reflexo, e faz parte do ambiente cultural (cultura viva- paisagem – gestão coerente da paisagem).

Cabe aqui destacar a política territorial da paisagem, segundo Varine, o objetivo de qualidade paisagística deve ser formulado pelas autoridades competentes, não se deixando de levar em consideração a responsabilidade e a participação da comunidade nesse procedimento.Hugue de Varine ressalvou que a coletividade, a interação na gestão, criação e elaboração de programas de desenvolvimento é imprescindível (indústria/empresa – intervenções sobre os domínios para o desenvolvimento a partir de uma ação conjunta).Vale a pensa ressaltar, em se tratando de ecomuseus, que o ecomuseu é o museu vivo, da vida, que valoriza o patrimônio vivo, e a cooperação e parcerias são de extrema valia para que tenha êxito em seus objetivos (conviver, partilhar o território e o patrimônio – população (comunidade, famílias, indivíduos) – atores econômicos (indústrias, comércio e produtores).

Varine nos lembrou que os moradores possuem necessidades, mas também possuem deveres e responsabilidades na mesma medida (emprego, renda, transporte, saúde, educação) – (gestão responsável – diálogo – procura por solução – poluição).O consultor mencionou o fato dos novos moradores, e a necessidade destes de enraizar-se no território. Também destacou que as iniciativas devem vir de baixo para cima, impulsionando o desenvolvimento local e assim incentivando o turismo, a cooperação entre indústria e comunidade para capacitação dos moradores, o estudo conjunto de soluções e a preparação para a cooperação, tendo em vista sempre a informalidade, o papel consultivo e a presidência alternante (comissões, associações, oscips etc.)

Ressaltando, para que o desenvolvimento local seja uma realidade torna-se mister a interação entre os parceiros com objetivos comuns, uma estrutura mista de atores políticos, sociais, econômicos – devem ser estabelecidos objetivos permanentes a partir da elaboração de um dossiê enumerando os problemas, necessidades, projetos, conflitos, os métodos a serem utilizados são a troca de informações e o debate livre, é de suma importância a compreensão mútua e a solidariedade balizando uma comunidade de interesse, e claro a elaboração de uma “hierarquia de objetivos”, bem como o debate consciente e a autocrítica permanente.

Nesse processo, o ecomuseu tem o papel de facilitador/ mediador, pois é um museu comunitário, aberto, centro de recursos documentais e humanos e de sinergias (atividades coordenadas e simultâneas, que contribuem para um objetivo comum).Enfim, a conferencia foi por demasiado produtiva e esclarecedora, sem contar com a participação dos presentes e suas colocações, como a do professor Walter Priosti, do professor Sinvaldo, Odalice Priosti, do diretor do CETEP/Santa cruz dentre outros não menos importantes.

No sábado, dia 15 de outubro, dia do mestre, visitamos a comunidade Sebastião Lan, Nova Sepetiba, e lá, eu como professora recebi uma lição de vida. Eu, enquanto moradora de Sepetiba, e representante no encontro do Ecomuseu Sepetiba, sinto que me faltam palavras para descrever a importância do trabalho desenvolvido pelo pároco local Padre Geraldo Marques, pelo diácono Von Damaceno , pela professora Ana Cristina, Dona Val, Angela e todos e todas presentes. Esta experiência não só foi agradável como deveras produtiva, dentre os relatos e colocações o da moradora e voluntária Isma foi o que mais me chamou atenção, tamanha sua seriedade, simplicidade e certeza de suas convicções. Saí do centro comunitário com uma certeza: é primordial que nós, enquanto moradores e moradoras de Sepetiba tomemos consciência de que somos moradores da mesma região, Sepetiba e Nova Sepetiba fazem parte do mesmo território. Precisamos nos unir, somar forças para o desenvolvimento de nossa região. Conversamos sobre possíveis causas e soluções para os problemas da comunidade, dentre eles destacam-se a ausência de serviços básicos como saúde e educação, além e claro como a falta de transportes. E decidimos que realizaremos um ato, uma manifestação pacífica para reivindicarmos o que é nosso por direito, além de termos chegado a conclusão de que a elaboração de uma dossiê sobre a comunidade é de extrema importância para pensarmos soluções e definirmos objetivos específicos.

A presença e a participação de Hugue de Varine, enquanto consultor, de Odalice Priosti e Walter Priosti foram primordias para que as primeiras diretrizes de ação fossem estabelecidas, bem como para a compreensão de uma série de questões.

A situação desses homens, mulheres e crianças é lamentável, não fosse o trabalho realizado pelo pároco e seus voluntários desde o início da ocupação seria ainda muito pior, o trabalho dessas pessoas é louvável e muito significativo, e acredito que todos nós deveríamos tomá-los como exemplo e nos unirmos para que consigamos realizar a gestão consciente do nosso território e valorização dos nossos patrimônios, materiais, imateriais, tangíveis e intangíveis.

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